Depois de meia hora de treino pouco aplicado, LoboAlfa reuniu os jogadores no centro do terreno.
Vou contar-vos uma história verídica. Uma madrugada, voltava eu de uma noitada com amigos, quando junto a um pequeno miradouro, entre dois prédios de habitação, vi uns vultos a acenarem. Diminui e velocidade e lá consegui perceber que era um casal idoso a chamar.
Parei, saí do carro e perguntei se precisavam de alguma coisa. Largaram-se os dois a chorar, enquanto a senhora afastava uma ponta do xaile e me mostrava a cabeça pelada e sarnenta do rafeiro mais feioso que alguma vez vi.
Lá me explicaram que o Bolinhas era o mais parecido com os filhos que nunca tinham tido e que estava a dar as últimas. E realmente o animal arquejava no estertor final.
Contaram-me que tinham saído àquela hora para tentar dar paz ao animal, mas que não tinham coragem para o fazer e que eu tinha de ajudá-los.
- Mas como? Perguntei. E foi quando ele me mostrou a pistola. Resumindo, os grandes malucos queriam que eu descesse por um carreiro estreito, ao lado do miradouro, e abatesse o animal, mais abaixo na encosta. Mas é que nem morto!
Três minutos depois lá estava eu, às 3 da manhã, no meio de uma encosta às escuras, com o cão debaixo do braço e a pistola na mão.
Mas na hora da verdade também não fui capaz, tive pena do animal e, para enganar os velhotes, mandei-o lá para baixo e dei um tiro para o ar.
Parecia o fim do mundo, o disparo ribombou pelas paredes dos prédios e as luzes começaram a acender-se nas janelas, enquanto eu patinava pela encosta acima.
Quando consegui trepar ao miradouro, o casal tinha desaparecido e, chamando nomes a mim próprio, meti-me no carro e fui para casa.
- Então e a pistola? Perguntaram várias vozes.
- Está aqui no bolso. De vocês não tenho pena e se continuarem a treinar tão mal…
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